top of page

Resíduos de inajá e açaí são antioxidante e anti-inflamatório

  • Foto do escritor: Marília Campos
    Marília Campos
  • 16 de ago. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 17 de ago. de 2023

O estudo científico dos compostos é inédito; Outros alimentos também apresentam potencial bioativo

Uma pesquisa de doutorado desenvolvida a partir de resíduos da polpa de inajá e açaí revelou que eles são ricos em compostos bioativos com atividade antioxidante e anti-inflamatória. O estudo possui resultados inéditos e foi publicado nas revistas científicas Food Research International e Foods. Nunca antes havia se investigado cientificamente esses resíduos.


“As atividades agroindustriais geram grande quantidade de resíduos, muitas vezes em volumes superiores ao produto que é comercializado. Uma indústria que processa frutas para extração de óleos e outros compostos ativos veio até nós para que estudássemos os óleos essenciais, a princípio. Conhecendo o processamento, sugerimos investigar os resíduos, visto que possuem maior rendimento do que os respectivos óleos ao final do processo e são comumente descartados e inexplorados”, conta a primeira autora dos artigos, Anna Paula de Souza Silva, que é cientista de alimentos e foi bolsista de doutorado da FAPESP na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

ree
Anna Paula de Souza Silva é cientista de alimentos e foi bolsista de doutorado da FAPESP na Esalq-USP. (Crédito: Acervo de pesquisadores)

Segundo a pesquisadora, que investiga desde o mestrado o potencial bioativo dos resíduos de açaí e inajá, frutas nativas brasileiras da região amazônica, a literatura já reporta propriedades bioativas muito importantes de diversos outros subprodutos do processamento de alimentos, como hortaliças e frutas, bem como os agrícolas.


“Vimos uma grande oportunidade de estudar esses resíduos de açaí e inajá que, até o presente, não têm uma destinação específica, sendo geralmente descartados no ambiente ou destinados à alimentação animal. Mas, dependendo do processo, da fruta e do seu rendimento em óleo, esse resíduo pode representar de 60% a 90% do volume total de matéria-prima”, revela.

ree
Tortas de açaí (esquerda) e de inajá; resíduos resultantes da prensagem das polpas das frutas para a extração de óleo (Crédito: acervo de pesquisadores)

Flavonoides e antocianinas

Geralmente, para a extração dos óleos, frutas como o açaí são maceradas em água quente, as sementes são removidas e a polpa é extraída, seca e prensada. No caso do inajá, o processo se repete, porém, a casca é removida logo no início. O que sobra na prensa é chamado de “torta”. Silva fez uma caracterização inicial desse material e desenvolveu métodos de extração que possibilitaram a produção de um extrato rico em substâncias antioxidantes. Então, usou diversas metodologias para analisar as propriedades dos extratos.


“Para avaliar a capacidade antioxidante geral, submetemos os extratos a uma análise do teor de compostos fenólicos totais e, posteriormente, determinamos o perfil em relação aos compostos bioativos. Para isso, separamos e identificamos diversos compostos por meio de cromatografia líquida de alta eficiência [técnica usada para separar cada um dos componentes de uma mistura] acoplada à espectrometria de massas de alta resolução [técnica de detecção e identificação de moléculas pela mensuração de sua massa e que também possibilita a caracterização da estrutura química]. Os principais compostos identificados no extrato de inajá foram procianidinas e, no de açaí, antocianinas, flavonas e flavonoides. Determinamos pela primeira vez o perfil dos extratos desses resíduos, relativo à presença de compostos fenólicos. E descobrimos que ele é bastante diverso no que tange às demais atividades analisadas, ou seja, anti-inflamatória, antioxidante e antimicrobiana.”


O grupo interdisciplinar que assina o trabalho fez, ainda, análises relacionadas ao sequestro de espécies reativas de oxigênio (ROS) – sendo algumas radicais livres que, quando presentes em excesso no organismo, podem gerar diversos tipos de prejuízo à saúde humana. Esses oxidantes têm efeitos nos alimentos também, por exemplo, diminuindo sua vida útil. “Com teores muito baixos dos extratos, conseguimos diminuir a concentração de algumas espécies reativas em 50%. É um indicativo de que o material tem uma potente ação antioxidante.”


Para analisar a atividade anti-inflamatória, os pesquisadores trataram macrófagos murinos, que são células do sistema imune de camundongos, com os extratos das tortas de açaí e de inajá em diferentes concentrações após o estímulo com um composto bacteriano (lipopolissacarídeo ou LPS) que desencadeia um processo inflamatório. Depois da indução, essas células produzem NF-κB (complexo proteico envolvido na resposta celular a estímulos, como o estresse e a ação de radicais livres) e citocinas como a TNF-α (com ações pró-inflamatórias).


“Avaliamos a inibição do fator NF-κB e os teores de TNF-α em células tratadas com os extratos. O resultado foi bastante animador. Com uma concentração de 100 microgramas de extrato por mililitro de meio de cultura [mcg/ml], conseguimos inibir o fator NF-κB deixando-o praticamente no nível das células usadas como controle, que não foram estimuladas com agentes inflamatórios. Nessa concentração, também conseguimos reduzir drasticamente os níveis de TNF-α nas células tratadas com os extratos, igualmente a um valor que não difere do controle”, resume Silva.


O grupo analisou, ainda, a atividade antimicrobiana do extrato da torta de açaí, selecionando algumas cepas de bactérias e leveduras relacionadas a doenças de origem alimentar e a enfermidades em ambientes hospitalares. “Os resultados indicam uma possível ação antimicrobiana, porém, novos estudos são necessários para detalhar esse potencial”, conta a pesquisadora.


Economia circular

Severino Matias de Alencar, um dos autores do trabalho, afirma que o grupo partiu da identificação da vocação dos resíduos, daí o uso de diversas metodologias de naturezas biológicas e químicas. “Vimos que eles têm vocações antioxidante e anti-inflamatória, indicando um alto potencial de reaproveitamento e contribuindo com a economia circular, que é o que queremos.”


Alencar reitera que os resíduos de açaí e inajá são muito ricos. “Dali só se retirou o óleo, ficou todo o material residual. É um material que pode ser reaproveitado tanto na indústria de alimentos quanto na farmacêutica e cosmética. Aliás, já fomos procurados por algumas empresas, que têm muito interesse, pois não querem usar nada de origem animal em seus produtos.”


Ele lembrou que Anna Paula Silva também simulou a digestão humana desses extratos in vitro, concluindo que eles conservam suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes na fração intestinal, onde seriam absorvidos (dados em processo de publicação).


“Agora, queremos estudar o transporte celular dos compostos da fração intestinal em modelo de células do intestino humano para verificar se os compostos bioativos são absorvidos e se as atividades biológicas são preservadas. E, na sequência, fazer protótipos de alimentos enriquecidos com os extratos estudados”, adianta o pesquisador.


O artigo Inajá oil processing by-product: A novel source of bioactive catechins and procyanidins from a Brazilian native fruit pode ser acessado em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0963996921002520?via%3Dihub.


Já o estudo Phenolic Profile and the Antioxidant, Anti-Inflammatory, and Antimicrobial Properties of Açaí (Euterpe oleracea) Meal: A Prospective Study está disponível em: www.mdpi.com/2304-8158/12/1/86.


Texto e imagem: Agência FAPESP

Por Karina Ninni

 


$50

Product Title

Product Details goes here with the simple product description and more information can be seen by clicking the see more button. Product Details goes here with the simple product description and more information can be seen by clicking the see more button

$50

Product Title

Product Details goes here with the simple product description and more information can be seen by clicking the see more button. Product Details goes here with the simple product description and more information can be seen by clicking the see more button.

$50

Product Title

Product Details goes here with the simple product description and more information can be seen by clicking the see more button. Product Details goes here with the simple product description and more information can be seen by clicking the see more button.

Recommended Products For This Post

Comentários


bottom of page